Eis que surge o meu blogue "pseudo-intelectual" para partilha de textos da minha autoria.



terça-feira, 8 de outubro de 2013

A Rua Mais Deserta da Cidade

Uma rua deserta, um anoitecer chuvoso, um vulto sob a luz alaranjada do candeeiro.Não há memória de um vulto tão só e tão triste por aquelas bandas, aliás, já não há memória de qualquer vulto por ali. Quem tarda em deixar aquela viela sombria? Há muito que todos partiram, nada os prendia ali, nada os fazia ficar. Ora, nem todos, parece. Um vulto teima em ficar, em ganhar raízes por entre as pedras daquela calçada, na luz cansada do candeeiro. Ninguém, nas suas pressas do dia-a-dia, se lembrara de arrastar aquele vulto e de o levar para outras paragens. Numa aparente apatia inconsciente, o vulto parecia ter deixado que todos passassem por ele sem agarrar a mão de alguém, sem que alguém lhe desse o braço. Agora a noite cai na rua deserta, a chuva molha o casaco preto e o emaranhado de cabelos castanhos daquele vulto que não dera pelo passar do dia ou dos tempos. E numa madrugada que não se deve atravessar sozinho, por lá se demora esperançoso o vulto, encantado pela rua outrora luminosa, outrora sobrepovoada. É isso, a chuva molha-me o casaco, a chuva molha-me os cabelos. Já só eu é que me demoro nestas ruas do amor.



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