Eis que surge o meu blogue "pseudo-intelectual" para partilha de textos da minha autoria.



quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Efigie

Em tons quentes te pinto, ao de leve, devagar, nessa tela hipotética que a minha mente esconde. De castanho o cabelo, de rosa os lábios bem delineados. Traço por traço, vou desbravando as tuas linhas, como quem te descobre agora neste quarto, como quem nunca te viu e te olha agora pela primeira vez. Um a um, decoro os teus sinais, voltando a eles inúmeras vezes, para que não me esqueça de nenhum. Percorro-te sem pressas, inventado os teus contornos no passar do toque suave das minhas mãos.
As cortinas dançam com a brisa e a claridade esgueira-se pelas frestas da persiana. Num jogo de sombras, à meia-luz, adivinho-te assim os gestos e trejeitos, os sorrisos e esgares. Fugidio o olhar, nega-se a coincidir com o meu. Quando finalmente me olhas, perco-me no escuro infinito desses olhos enigmáticos. Inebriada pelo teu fôlego vou completando este esboço fictício, numa estética só nossa. Neste jogo que nunca termina, que eu conheço bem demais mas que teimo a reviver vezes sem conta. O quadro inacabado a que regressarei todos os dias, apenas para acrescentar um ponto, uma ruga, o que seja... Apenas para te rever e me lembrar de ti.